Me disseram que eu não ia engravidar sem tratamento. E essa é a única forma de começar esse texto, com o choque que eu senti e com as palavras que reverberaram na nossa família nos últimos 5 anos.
Nós vivemos. Viajamos. Entramos na fila de adoção, adotamos mais dois gatos, eu tive uma mudança de carreira, viajamos mais um pouco, lemos livros, fizemos terapia, descobrimos a delícia de sermos nós dois de várias formas.
Ano passado eu fui na ginecologista e ela me perguntou como eu prevenia gravidez, eu dei risada e falei "de forma natural, meu marido é infértil".
Veio um carnaval, e como bom clichê que somos, foi logo ali que a gente resolveu florescer. Na história do meu nome, Teseu abandona Ariadne em uma ilha e Dionísio se apaixona por ela a tomando como esposa. Eu e Dionísio seguimos em bons termos, porque foi logo na festa dele que uma única célula minúscula começou a se multiplicar dentro de mim e vai continuar se multiplicando até ser um pedacinho meu e do Julianno que anda pelo mundo.
Seja álcool, Dionísio, milagre ou um acaso feliz, eu finalmente posso dizer aquilo que me falaram há cinco anos que não era para nós: Eu estou grávida. Tem vida pulsando dentro de mim, tem célula se multiplicando e se nutrindo junto comigo. Seremos pais e o mundo agora, ao menos para mim, está um tantinho melhor,
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Eu ainda não me senti confortável o suficiente para gritar isso pro mundo. A verdade é que eu estou completamente apavorada. A gente tinha aceitado o fato de que não ia passar por essa fase e estava tudo bem. Mas aparentemente a infertilidade não é o melhor contraceptivo (não recomendo) e de alguma forma, nossa vida inteira mudou. Tudo dando certo, serei uma ausência em outubro, mas é apenas por excesso de presença dentro de mim. Eu sei que a essa altura das nossas vidas a gente já cansou desse tipo de papo e tem uma demografia considerável aqui que já fez o próprio anúncio, ainda assim, eu queria falar disso em algum lugar, tornar um pouco mais perto da realidade, trazer para um espaço seguro que não seja só o que há dentro de mim. Porque por mais apavorada que eu esteja, eu confesso que também estou absolutamente feliz.
