Grande São Paulo. Centenas ou até milhares de pessoas (retomando trecho de outro texto meu.. hoho) passam umas pelas outras diariamente e apesar dessa rotina ninguém se conhece pessoalmente.
Em contrapartida nas mídias há a valorização da fama, todos devem querer se tornar uma celebridade. Ser uma pessoas conhecida para o resto de milhões.
Entre o ideal divulgado e a realidade, o dia-a-dia. Acordar de madrugada, pegar no mínimo três conduções. Silêncio; todos sérios pensando em suas preocupações. Trem, metrô e ônibus lotados, todos os dias isso. E pra quê? Se no meio de toda essa gente se é ninguém. Não reconhecem, não conhecem.
Mas caso o olhar silencioso se atentar às janelas e portas do trem que frequenta, onde não há a observação vigilante do cobrador e nem o glamur barulhento do metrô. Enxergará o testemunho de existência de outros próximos à sua realidade de vida.
A pixação como parente, são assinaturas ilegais que desejam a atenção. Porém, as portas têm as suas singularidades. Pessoas transparentes deixam suas assinaturas transparentes. Observar de bem de perto, isso não é difícil quando o vagão está lotado.
E no chacoalhar do trem, equilíbrio e um pouco de força. O peso da mão, os vacilos e as letras codificadas, tudo fica registrado. Não com a sobreposição de tinta e sim o arranhado de uma chave ou compasso ou qualquer coisa pontiaguda útil para essa missão. Uma marca irreversível.
Espaço pequeno, grandes anseios de muitas pessoas para mostrar que são e estão. Risco sobre risco. O traço mais fundo, a maior letra. A concorrência para a afirmação do existir. Concorrência entre companheiros de trem, de portas e janelas. Que no final, torna-se um só texto. Emaranhado de gestos, vozes mudas e pessoas.
Não se vê mais o outro lado. Quem está fora não encherga direito o que está dentro e quem está dentro não consegue ver a paisagem que passa. A porta, passagem. Todos que entram tem que sair. Todos são forçados a passar por esses textos construídos aos poucos. Muitos autores. Autores que tem em comum a inquietação de se mostrarem.
O proibido interessa, sem ele não tem em seu gesto a força do protesto. "Estamos aqui, existimos!" Este é o tema reivindicado. Não visto por quem devia. Mas já é uma atitude contra o que dizem pra serem, ou melhor, não serem. Uma marca de individualidade que representa um grande grupo. Inconscientes ou não de seu protesto, representam todos os outros que em silêncio entram e saem dos trens, metrôs e ônibus.
9 comentários:
Ler esse texto me fez refletir na influência do curso superior na visão que a gente tem das pessoas. Bom texto gi!
Adoro seus textos-cotidiano-em-São-Paulo!
Trabalho de desenho. =D
Muito bom! *-*
Eu imaginei alguém elaborando essas frases, olhando pela janela de um metrô, cantando "Across the Universe" - Nothing is gonna change my world.
Nos, numca tive essa visão das pichações toscas de corretivo e etc... muito boa sacada que isso é um grito de existencia...
ótimo texto gi... e to sentindi um pouco de falta da inspiração que são paulo da em relação a texto, apesar de sempre cinza o cotidiano de sampa é muito inspirador
E deprimente, segundo o que descrevem.
hahahahaha(para o comentário da Lídia)consegui te ver perfeitamente dentro do metrô(ok,ok,eu viajo)
fods =x
mto bom Gigi =D
Muito bom Gi. Só uma artista pra enxergar arte, mensagem, protesto no mais cotidiano.
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