domingo, 29 de maio de 2011

Deixe-me entrar

O casal vem caminhando em minha direção. Eles são aposentados e devem estar casados há mais de trinta anos. O outro casal também está se aproximando, vão me ultrapassar em três, dois, um... A senhora passa com os olhos fixos nos amigos e abrindo um largo sorriso, seu marido vai atrás, acenando. Nós, eu, os quatro senhores e muitas outras pessoas, usam este belo parque para mantermos nossos corpos em bom estado.
Pois bem, os casais se encontram e trocam palavras animadas, cumprimentos e incentivos. Essa amizade é cortesia do parque que nos une. De tanto se encontrarem, desenvolveram o costume de beber água de coco depois da caminhada. Enquanto se hidratam, trocam figurinhas sobre os filhos, netos, a vida de aposentados. Quando acabam, voltam para suas rotinas mais felizes.
Há anos nos encontramos aqui, há anos tenho vontade de entrar na vida deles, não com violência ou estardalhaço. Quero apenas assistir o cotidiano comum, vê-los conversar, comer, fazer compras, brigar...
Um dia não agüentei, escolhi o casal que mais me encantava e ousei segui-los. Como imaginava, entraram em um mercado perto do parque. Estava certo também sobre a casa, simples, antiga e pequena. Casa de vó.
Extasiado, observava os movimentos do senhor para abrir o pesado cadeado, cada movimento fora bem treinado ao longo dos anos. Eles entraram, fecharam o portão e sumiram dentro da casa. Estava ficando atrasado para o trabalho, precisava ir.
Durante um tempo continuei indo lá, queria sentir aquela rotina, provar daquele cotidiano tão banal, tão humano. Uma noite tive sorte e consegui vê-los, de relance e por segundos, sentados no sofá, assistindo televisão. Dormi feliz.
Mas não é só dessa vida aposentada que vive minha curiosidade, outras pessoas no parque me atraíam. Meus olhos as buscavam, tentado extrair os detalhes, as histórias, as manias, para conhecer, para saber, sentir e viver um pouco uma vida diferente. Foi por causa dessas outras pessoas que não percebi.
Um dia, lá vinha o velho senhor. Sem sua esposa. Foi então que notei que há um mês ou mais, só o outro casal vinha caminhar. Que também não sabiam o que acontecera porque ao vê-lo, apertaram mais o passo que o de costume e me ultrapassaram em três, doi...
Fiquei aliviado, ela descobrira que tinha artrose e estava com uma fratura no fêmur, precisava operar e não podia mais fazer caminhas. Os amigos ficaram igualmente aliviados, desejaram melhoras e prometeram visitá-la em breve.
Algumas semanas depois, o senhor apareceu acompanhado por um homem de meia idade, seu filho. Minha curiosidade acendeu, senti que tinha algo errado.
Quando se encontraram no carrinho da água de coco, quase corri para chegar a tempo de acompanhar a conversa. Discretamente, encostei-me ao portão do parque, ficando um pouco atrás das cadeiras deles, mas com uma visão boa de suas expressões.
O homem explicava que se divorciara recentemente, não tinha motivo para morar sozinho, era melhor ter e fazer companhia. Olhou com ternura para seu pai. A senhorinha fez um comentário de aprovação e perguntou: ‘Como está sua mãe? Está animada pra cirurgia? Precisamos ir visitá-la, né bem?’Antes que seu marido terminasse o aceno afirmativo e dissesse qualquer outra coisa, o homem arregalou os olhos e virou-se: ‘Pai?!’
O aposentado olhava para o chão, não iria explicar. O filho virou-se para o casal que observava a cena com espanto. ‘Minha mãe faleceu... ’. O pai levantou-se e voltou para a pista, fui atrás dele.
Enquanto me esforçava para ficar próximo, minha mente vagava pela casa vazia do viúvo. Aquela casa antes simpática e convidativa, agora parecia mais um depósito torturante de lembranças, por todos os cantos havia pedaços, restos dos anos de convivência. Os móveis exalavam recordações, as paredes expunham a genealogia da família, dezenas de rostos sorridentes. A cozinha e o quarto eram os maiores vilões, neste ficavam as recordações mais concretas, as roupas, bijuterias, os sapatos e perfumes. Naquela ficavam as lembranças das refeições, comidas saborosas (ela cozinhava tão bem!), dos Natais e até das noites de insônia, quando o dinheiro estava mais apertado e ela aparecia no meio da madrugada para lhe fazer companhia.
De repente ele parou, com uma mão buscou apoio num poste, com a outra cobriu os olhos. Rubem Alves escreveu: ‘A saudade é a presença de uma ausência’. Naquele momento, a Ausência estava ali, tentando olhar em seus olhos.
Foi então que aconteceu.
Eu estava apoiado no poste, aquela dor era minha. As lágrimas, grossas e quentes, escorriam por meu rosto, pescoço e molhavam a cola da camiseta. A garganta apertada pedia: ‘Grita!’, mas eu só soluçava. No escuro dos meus olhos fechados, via nossa casa ocupada apenas por mim e pela Ausência. Ela passava os dias comigo, almoçando, sentada no sofá, a espreita no supermercado e dormindo, quieta, fria, de costas pra mim, no lado onde todos esses anos Ela dormira. A dor pesava, minhas pernas não suportaram mais, fui sentando, me encolhendo.
O filho apareceu e o abraçou. Eu voltei a ser eu. O casal de amigos também estava ali, apoiando, sem nada dizer. Havia uma ferida exposta na calçada, os caminhantes observavam,paravam e comentavam. Alivia assistir o drama alheio, no segundo seguinte ele acaba e a vida volta ao normal, lá no fundo todos os expectadores pensando: ‘Ainda bem que não é comigo’. Era comigo, eu era parte de tudo aquilo, eu era um pouco aquele aposentado, eu participara da vida de casado e de viúvo, eu era uma parte... A senhora amiga percebeu minha presença intrusa e se espantou com meu rosto molhado e meus olhos inchados, havia dor em meu semblante. Os olhos dela me perguntavam o que estava fazendo e eu queria responder, era a chance de fazer parte daquele grupo, de entrar de fato naquela vida.
‘Nada!’
Saí correndo, precisava trabalhar, ainda tinha que tomar banho.
Quando meu corpo disse chega, obedeci. Ofegante, admirava as ruas de meu bairro com um amor incrível, também sentia um enorme desejo de entrar em todas aquelas casas comuns, conhecer seus cheiros, seus fantasmas, seus móveis, sua vida.
Perto de meu prédio encontrei uma vizinha. Era uma moça de uns trinta anos, bonita, solteira, morava sozinha. Mas quase nunca ficava sozinha, sempre recebia visitas, fazia festas, jantares, lanches, chás. Tinha um jeito de viver que me encantava. Eu gostava de como ela se vestia, expressava bem sua personalidade vibrante. Também tinha um jeito delicado de se maquiar. Não precisava segui-la, sua casa era encostada na minha, podia ouvir facilmente o que se passava do outro lado, era um prato cheio. E naquele dia, ela me deu uma ótima notícia: ‘Hoje vou te incomodar, Jairo, minha melhor amiga voltou de viagem, vai ter uma comemoração lá em casa’.
Foi o suficiente.
Tomei banho animado, teria festa, precisava pensar em que roupa usar. Porém havia um peso em meu peito, a ausência de alguém estava presente, uma saudade, lembrança de uma vida passada.
Lídia,com ajuda da Marie

quarta-feira, 25 de maio de 2011

HOJE É DIA DO ORGULHO NERD

Galerística tortuguesa!
Gostei de ser calendário do blog.
Como sei que aqui tem os assumidos, os não assumido e os que estão para assumir a nerdisse, essa data tem que estar em vossos corações.
=D

terça-feira, 24 de maio de 2011

Procura-se Fernando Coneglian Saraiva

Aproveitando a vibe de efervescência do blog.. gostaria de saber se alguem tem algum contato do Fernando. Ou se o próprio surge.
Precisava falar com ele.

Valeus!

DIA MUNDIAL DAS TARTARUGAS

Tortuguitas do meu coração!!
Ontem, 23 de Maio, o mundo celebrou a existência dos seres mais ....seres: as tartarugas!
'Somo nozes', meu povo!
E....também, Rubens Barrichello completou 39 anos!
'É ou não é totalmente excelente?'

segunda-feira, 23 de maio de 2011

AMO VOCÊS

Amo amo amo amo! Ando amorosa ultimamente. Só pra constatar.
----------- Agora, as últimas notícias da minha vida em primeira mão (já que todos querem saber da minha vida pq normalmente ela é muito divertida, e de grande relevância social):
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----------- Ando com muita saudade de todos vocês, pq alguns de vcs não vejo há muito tempo. tenho saudade também dos tempos da escola, q podíamos ficar todos juntos todos os dias, e eu provavelmente estaria falando todas essas coisas pra voces pessoalmente. -----------
Terceiro ano de faculdade, já tô com síndrome de quarto ano, achando que tudo vai acabar e eu não cresci nada. Me sinto a mesma pessoa do 2 colegial, e ainda quero fazer a grande maioria das coisas que eu pensava na época. Me sinto criança pra enfrentar uma vida "adulta", cheia de gente séria e chata, cheia de compromissos e sem piadas ou conversinhas bobas. Ah, sinto muita saudade da conversa boba. ----------
Esse ano faço 20 anos (oh meu deus), me sinto até que bem comigo mesma, mas confesso que me imaginava mais adulta com 20 anos. Meus planos para os 20 anos eram um pouco mais brilhantes, eu acho. Mesmo assim, me sinto feliz, mas confesso que me assusta pensar que tenho celulite no bumbum e isso é irreversível, e que não perco peso tão fácil agora, e que tem um vasinho quase parecido com varizes aparecendo na minha perna, e que simplesmente tudo não vai ficar melhor, não vou crescer mais nem meu corpo vai mudar. ---------
Agora, uma divagação sentimental. Li uma coisa essa semana no facebook do Chala, que me fez pensar demais - era uma frase, dizendo "Permita-se mais". Ultimamente tenho seguido isso à risca, me permitindo abrir o coração pra um monte de coisas q eu andava fechada, fazer coisas que não são lá minha cara e me deixando ser um pouco mais feliz. Esses dias ouvi muito q eu não pareço eu mesma de outros amigos, e fico muito feliz por isso, pq finalmente tô sendo eu mesma, q tinha se perdido em algum lugar depois do terceiro colegial. Por muito tempo, vocês groove foram os únicos que conheceram a Marixah do jeito mais natural, mais besta e mais feliz q eu já fui, e queria conseguir ser assim com todos. Essa é a minha opção de vida, agora. ------------
Terminei um namoro que tava ficando muito ruim, com o respectivo ex que alguns de vocês tiveram a chance de conhecer. Porém, eu não seria eu, se eu já nao tivesse namorando de novo, né. Então, estou namorando de novo, e dessa vez muito feliz X) essa é a razão da amorosidade.
-------- Quem tiver em Marília no feriado do dia 23-26 de junho, pode ir comigo na Festa das Cerejeiras e conhecer meu novo (e agora pra valer) namorado. Ele não mora em Marília, e penso em um dia me mudar pra Porto Alegre, depois que eu me formar no ano que vem. Além de conhecer ele, podem passar um tempo na minha presença ilustre, que acho que é a parte mais importante de todas, claro.
---------- (ah chu, sabia que ele me lembra muito você? acho que é por isso q gosto tanto dele)
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----------- Beijos lindos!

Sobre o último (a palavra último como marcador de uma ordem cronológica, num tempo futuro, quem sabe mudar para um dos primeiros) encontro.

Constatei que as manhã marilienses são mais claras e empolgantes. Que um final de semana pode significar muita coisa. Que poderia existir um supensor de tempo. E não importa o que se faz, e sim, com quem se faz. Fim.

sábado, 21 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cópia do Cópia fiel.

Sem indícios de protocolos, chegou, olhou e entendeu o que deveria falar. Ensaiou um início, mas foi interrompid@.
Risinhos irônicos.
(Ensaio para uma palestra no Mosteiro)

domingo, 1 de maio de 2011

Crise

‘Já quase não existo’, pensei no caminho de volta pra casa. Tem alguns anos que estou assim. Sinto-me tão vazia, tão inexistente.
Sou jovem e carrego uma carreira boa e um casamento desfeito. Pensar nisso me faz sentir com quarenta. Cubro matérias interessantes, faço análises que são elogiadas. Mas e eu? Gosto do que tenho feito? Francamente não sei, não sei se escrevo o que, como quero. Aliás, o que quero? Será que quero ser jornalista? Será que sou uma farsa?
Essas perguntas surgiram com a separação. Apesar da terapia e de todas as mudanças que fiz, não estou satisfeita, sinto que algo está me chamando. Existe uma solução que ainda não se revelou, mas sinto que será grande. Quero que seja grande, quero que mude tudo, que abale as estruturas, mais do que elas já foram abaladas. Isso é masoquismo?
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Encontrei! Estava na minha frente o tempo todo! Desde muito nova amo o Brasil, viajei várias vezes pra lá, falo português, tenho amigos brasileiros.
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Meus pais me chamaram de louca, mas faz parte. Estou no avião, sinto um frio na barriga. Estava com saudade dessa sensação, o desconhecido, imprevisível. Vou para São Paulo, já tenho um lugar para ficar até conseguir um emprego.
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A última vez que escrevi aqui foi há um ano (2oo8). Um ano de Brasil, um ano de muitas novidades.
Tenho que admitir, não foi na fácil nos primeiros dias. Ligava para meus pais diariamente, precisava falar francês, chorar, cheguei até a achar que tinha sido mesmo uma loucura.
Não foi tão simples arranjar um trabalho, foi um verdadeiro recomeço. Parecia recém-saída da faculdade. Por um motivo bobo, não avisei nenhum dos meus amigos brasileiros, queria começar sozinha.
Mas veio o emprego e com ele os novos colegas. Depois um novo apartamento, novos vizinhos. E tive tanta sorte! Fui acolhida, tanto que sem exagero, tenho uma nova família. Quando estabilizei, avisei os velhos amigos, eles entenderam (todos fizeram aquela cara de 'porque fez isso? '[a Lídia ficou chocada], mas ainda me amam).
Hoje, nesse aniversário de mudança, posso afirmar que fiz a coisa certa. Infelizmente, precisei cruzar um oceano pra perceber que vivia de um jeito infantil, que me apegava a um estilo de vida por achá-lo engrandecedor. Era o que gerava minhas dúvidas em relação ao jornalismo, estava na área por amor ou pelo status, pela atenção que recebia com a profissão? E o pior é que nem famosa eu era, muitos leitores gostavam de minhas matérias, quando tinha espaço para um texto, a receptividade também era boa, mas não era nada de extraordinário. E eu agia como se fosse um fã clube, parecia que precisava dos elogios, dos comentários positivos...
Minha mudança me ensinou que não preciso. Não recebi nenhum comentário nesses primeiros meses e só me dei conta disso semana passada. Não senti falta nenhuma, não acho que faça diferença pra mim. Percebi que estou no jornalismo por amor, gosto de verdade e em algum momento, provavelmente na faculdade, me iludi com a possibilidade da fama.
Essa constatação me fez tão bem. Fui me entregando cada vez mais ao trabalho, à nova vida. Estou feliz, com a certeza de que era realmente o que queria (nem sempre com um sorriso no rosto, claro, sou humana).
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Estou voltando para a França para passar minhas primeiras férias. Meus pais querem que volte definitivamente já que a crise passou. O ‘problema’ é que além de estar muito satisfeita com minha vida brasileira, tenho um novo amor.
Vamos ver como vou reagir à Terrinha. Tenho que confessar sem medo de ser piegas que sou uma francesa de alma brasileira, mas sou francesa. Amo muito meu país.
Algumas coisas que me incomodavam na minha antiga vida eram diretamente relacionadas com meu orgulho francês, era outra maneira de me sentir especial, superior. Pensar nisso me deixa envergonhada. Só que preciso enfrentar o problema, superá-lo. Seria uma desculpa pra voltar definitivamente?
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Meu coração está pesado, é difícil, mas preciso voltar para o Brasil. Consegui passar um mês sem aquelas atitudes, aquele sentimento de superioridade. Pra mim isso indica que a mudança foi verdadeira. Para meus pais é o motivo que me faria ficar, porém já estou no avião. Abandonar a vida que construí seria como dizer: ‘Não era permanente, você só precisava de uns ajustes, agora volte para o conforto e a pátria querida’.
Desejava uma mudança que abalasse as estruturas, que mexesse de verdade com tudo o que sou. A vida nova provocou isso, chorei muito, enfrentei um exército de fantasmas e valeu a pena, não vou jogar fora o que acabei de conquistar, o que me fez tão bem.
Então, diga ao povo que fico! (perdão, o trocadilho histórico foi irresistível)
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Em agosto completo três anos de Brasil. Já estava passando da hora de vocês, queridos do VPMT saberem disso. Agradeço muito por serem meus ‘fãs’ (rsrsrsrs), por sempre me receberem bem e agüentarem meu ego inflado, é maravilhoso compartilhar esse espaço com vocês!