domingo, 1 de maio de 2011

Crise

‘Já quase não existo’, pensei no caminho de volta pra casa. Tem alguns anos que estou assim. Sinto-me tão vazia, tão inexistente.
Sou jovem e carrego uma carreira boa e um casamento desfeito. Pensar nisso me faz sentir com quarenta. Cubro matérias interessantes, faço análises que são elogiadas. Mas e eu? Gosto do que tenho feito? Francamente não sei, não sei se escrevo o que, como quero. Aliás, o que quero? Será que quero ser jornalista? Será que sou uma farsa?
Essas perguntas surgiram com a separação. Apesar da terapia e de todas as mudanças que fiz, não estou satisfeita, sinto que algo está me chamando. Existe uma solução que ainda não se revelou, mas sinto que será grande. Quero que seja grande, quero que mude tudo, que abale as estruturas, mais do que elas já foram abaladas. Isso é masoquismo?
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Encontrei! Estava na minha frente o tempo todo! Desde muito nova amo o Brasil, viajei várias vezes pra lá, falo português, tenho amigos brasileiros.
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Meus pais me chamaram de louca, mas faz parte. Estou no avião, sinto um frio na barriga. Estava com saudade dessa sensação, o desconhecido, imprevisível. Vou para São Paulo, já tenho um lugar para ficar até conseguir um emprego.
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A última vez que escrevi aqui foi há um ano (2oo8). Um ano de Brasil, um ano de muitas novidades.
Tenho que admitir, não foi na fácil nos primeiros dias. Ligava para meus pais diariamente, precisava falar francês, chorar, cheguei até a achar que tinha sido mesmo uma loucura.
Não foi tão simples arranjar um trabalho, foi um verdadeiro recomeço. Parecia recém-saída da faculdade. Por um motivo bobo, não avisei nenhum dos meus amigos brasileiros, queria começar sozinha.
Mas veio o emprego e com ele os novos colegas. Depois um novo apartamento, novos vizinhos. E tive tanta sorte! Fui acolhida, tanto que sem exagero, tenho uma nova família. Quando estabilizei, avisei os velhos amigos, eles entenderam (todos fizeram aquela cara de 'porque fez isso? '[a Lídia ficou chocada], mas ainda me amam).
Hoje, nesse aniversário de mudança, posso afirmar que fiz a coisa certa. Infelizmente, precisei cruzar um oceano pra perceber que vivia de um jeito infantil, que me apegava a um estilo de vida por achá-lo engrandecedor. Era o que gerava minhas dúvidas em relação ao jornalismo, estava na área por amor ou pelo status, pela atenção que recebia com a profissão? E o pior é que nem famosa eu era, muitos leitores gostavam de minhas matérias, quando tinha espaço para um texto, a receptividade também era boa, mas não era nada de extraordinário. E eu agia como se fosse um fã clube, parecia que precisava dos elogios, dos comentários positivos...
Minha mudança me ensinou que não preciso. Não recebi nenhum comentário nesses primeiros meses e só me dei conta disso semana passada. Não senti falta nenhuma, não acho que faça diferença pra mim. Percebi que estou no jornalismo por amor, gosto de verdade e em algum momento, provavelmente na faculdade, me iludi com a possibilidade da fama.
Essa constatação me fez tão bem. Fui me entregando cada vez mais ao trabalho, à nova vida. Estou feliz, com a certeza de que era realmente o que queria (nem sempre com um sorriso no rosto, claro, sou humana).
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Estou voltando para a França para passar minhas primeiras férias. Meus pais querem que volte definitivamente já que a crise passou. O ‘problema’ é que além de estar muito satisfeita com minha vida brasileira, tenho um novo amor.
Vamos ver como vou reagir à Terrinha. Tenho que confessar sem medo de ser piegas que sou uma francesa de alma brasileira, mas sou francesa. Amo muito meu país.
Algumas coisas que me incomodavam na minha antiga vida eram diretamente relacionadas com meu orgulho francês, era outra maneira de me sentir especial, superior. Pensar nisso me deixa envergonhada. Só que preciso enfrentar o problema, superá-lo. Seria uma desculpa pra voltar definitivamente?
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Meu coração está pesado, é difícil, mas preciso voltar para o Brasil. Consegui passar um mês sem aquelas atitudes, aquele sentimento de superioridade. Pra mim isso indica que a mudança foi verdadeira. Para meus pais é o motivo que me faria ficar, porém já estou no avião. Abandonar a vida que construí seria como dizer: ‘Não era permanente, você só precisava de uns ajustes, agora volte para o conforto e a pátria querida’.
Desejava uma mudança que abalasse as estruturas, que mexesse de verdade com tudo o que sou. A vida nova provocou isso, chorei muito, enfrentei um exército de fantasmas e valeu a pena, não vou jogar fora o que acabei de conquistar, o que me fez tão bem.
Então, diga ao povo que fico! (perdão, o trocadilho histórico foi irresistível)
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Em agosto completo três anos de Brasil. Já estava passando da hora de vocês, queridos do VPMT saberem disso. Agradeço muito por serem meus ‘fãs’ (rsrsrsrs), por sempre me receberem bem e agüentarem meu ego inflado, é maravilhoso compartilhar esse espaço com vocês!

5 comentários:

Cauê Chu'bS disse...

assim que eu tiver um comentário construtivo eu volto u.u

lídia disse...

Sem problemas,Cauê.Ainda que ninguém comentasse,pelo menos,já contei (e a Lídia lembrou de postar,né amiga querida?estou brincando,Lí,sabe que te amo)

Glauco disse...

eu sempre fico muito confuso com alguns textos nesse blog... sinto como se não entendesse alguns lances ai ... o.0

Purple-Headed Tang Chasa disse...

As vezes é dificil até pra quem ta contextualizado ... mas normalmente esses são os melhores textos...

Cauê Chu'bS disse...

ae Glauco, num próximo rolê Groovial quem sabe a Lídia não conta a história da Marie xP