» Estava comentando o texto do Chala e decidi transformar em postagem :)
[abraço virtual]
Oi Chala!
As vezes me pego pensando "em como a vida deveria ser épica mas não é". Parece que tenho uma crença de que a vida tinha que ser cheia de feitos heroicos, fogos de artifício, aplausos e grandes conquistas. Não consegui delimitar isso melhor ainda, é uma sensação vaga e incômoda de que deveria ter feito/sido mais.
Pode ser só algo individual, um tipo de autossabotagem, mas acabei lembrando dela quando você fez a comparação com The Good Place (não assisti mas já tinha ouvido falar).
Estar na média parece pouco, né? A média não parece suficiente porque sempre vai faltar um item importante ou a realidade não vai ser brilhante como a fantasia.
No momento, não estou trabalhando, então a vida profissional dos outros me deixa pensativa. Até que outro dia, me dei conta de que uma das minhas colegas de sala mais louconas agora tá casada, com filho e é dona de casa. E a vida dela não poderia ser mais autêntica, ela constrói os próprios móveis, reforma a própria casa (ela e o marido acabaram de refazer a fossa da casa, e eles fizeram um trabalho genial! Detalhe: ela é designer de produto e ele é professor de educação física em uma escola municipal).
Já uma outra colega, que sempre foi mega família e não conseguiu morar um semestre em Bauru porque era de Jaú e preferia ir e vir da casa dos pais, foi fazer mestrado em Portugal. Ela namorava um rapaz do colegial, eles tinham até um golden juntos, mesmo não morando na mesma casa ainda. E ela tá super blogueira designer na Europa fazendo mestrado, amigos internacionais, chique demais. Parece que não está mais namorando.
Fiquei pensando que essa segunda colega está muito bem, ela trabalhou alguns anos como designer de produto e agora tá fazendo mestrado, tá morando fora, fazendo contatos etc. Estava começando aquela auto comparação básica quando me dei conta do quão família ela é e lembrei da primeira colega. Elas são amigas, inclusive.
Me ocorreu que mesmo nesse momento bem sucedido, essa moça pode olhar pra a amiga e sentir que não fez o suficiente, pois mesmo que esteja num momento profissional bom, ela ainda não tem uma família.
Respondi pra auto comparação:
"Nunca vai ser suficiente, né?"
Estava falando tudo isso porque quando você disse que sente nostalgia do passado romântico e indeterminado, especulei se seria algum lugar tipo colegial ou faculdade. Acho que são dois momentos onde temos expectativas brilhantes, todo mundo em volta tá pensando no futuro, cheios de ambições e sonhos. É como se estivessemos na antesala da vida, imaginando como vai ser, principalmente no colegial, quando temos pouca autonomia.
E aos poucos vamos nos tornando adultos, conseguindo autonomia, acumulando responsabilidades e descobrindo (ou não) quem somos e quais são nossos limites. A realidade vai se apresentando e não só ela costuma ser menor e menos brilhante do que a fantasia (após 2020 cabe acrescentar: pode ter um plot twist que ninguém sonhou). Mas também acho que pode dar saudade de imaginar.
Estamos em um ponto que a lista de grandes conquistas vai ficando vazia, ou porque já realizamos ou porque não temos muito o que colocar. E acho que, pelo menos pra mim, isso traz uma sensação de "e agora?". Um vazio, uma sensação de falta de propósito. E vem a crença de "deveria ter feito mais/deveria ser mais assim ou assado".
Será que ficamos viciados em esperar pelo futuro? Será que é tipo um esgotamento de futuro com forte depreciação do presente? É isso que acontece depois do "felizes para sempre"? (No caso depois da formatura kkkk)
Essa foi a interpretação que dei pro seu texto, espero não ter viajado muito na maionese XD
Espero que possamos aproveitar mais nossas vidas como são. E que se estivermos muito descontentes ou há muito tempo com a sensação de "mais ou menos/tanto faz", que tenhamos coragem pra encarar o que precisa mudar. Mesmo que sejam mudanças tão grandes que joguem por terra inclusive nossas identificações mais sólidas.
Abraços <3