sábado, 12 de fevereiro de 2022

Life after the happily ever after

 » Estava comentando o texto do Chala e decidi transformar em postagem :)

[abraço virtual]
Oi Chala!
As vezes me pego pensando "em como a vida deveria ser épica mas não é". Parece que tenho uma crença de que a vida tinha que ser cheia de feitos heroicos, fogos de artifício, aplausos e grandes conquistas. Não consegui delimitar isso melhor ainda, é uma sensação vaga e incômoda de que deveria ter feito/sido mais.

Pode ser só algo individual, um tipo de autossabotagem, mas acabei lembrando dela quando você fez a comparação com The Good Place (não assisti mas já tinha ouvido falar).
Estar na média parece pouco, né? A média não parece suficiente porque sempre vai faltar um item importante ou a realidade não vai ser brilhante como a fantasia.

No momento, não estou trabalhando, então a vida profissional dos outros me deixa pensativa. Até que outro dia, me dei conta de que uma das minhas colegas de sala mais louconas agora tá casada, com filho e é dona de casa. E a vida dela não poderia ser mais autêntica, ela constrói os próprios móveis, reforma a própria casa (ela e o marido acabaram de refazer a fossa da casa, e eles fizeram um trabalho genial! Detalhe: ela é designer de produto e ele é professor de educação física em uma escola municipal).
Já uma outra colega, que sempre foi mega família e não conseguiu morar um semestre em Bauru porque era de Jaú e preferia ir e vir da casa dos pais, foi fazer mestrado em Portugal. Ela namorava um rapaz do colegial, eles tinham até um golden juntos, mesmo não morando na mesma casa ainda. E ela tá super blogueira designer na Europa fazendo mestrado, amigos internacionais, chique demais. Parece que não está mais namorando.
Fiquei pensando que essa segunda colega está muito bem, ela trabalhou alguns anos como designer de produto e agora tá fazendo mestrado, tá morando fora, fazendo contatos etc. Estava começando aquela auto comparação básica quando me dei conta do quão família ela é e lembrei da primeira colega. Elas são amigas, inclusive.

Me ocorreu que mesmo nesse momento bem sucedido, essa moça pode olhar pra a amiga e sentir que não fez o suficiente, pois mesmo que esteja num momento profissional bom, ela ainda não tem uma família.
Respondi pra auto comparação:

"Nunca vai ser suficiente, né?"


Estava falando tudo isso porque quando você disse que sente nostalgia do passado romântico e indeterminado, especulei se seria algum lugar tipo colegial ou faculdade. Acho que são dois momentos onde temos expectativas brilhantes, todo mundo em volta tá pensando no futuro, cheios de ambições e sonhos. É como se estivessemos na antesala da vida, imaginando como vai ser, principalmente no colegial, quando temos pouca autonomia.


E aos poucos vamos nos tornando adultos, conseguindo autonomia, acumulando responsabilidades e descobrindo (ou não) quem somos e quais são nossos limites. A realidade vai se apresentando e não só ela costuma ser menor e menos brilhante do que a fantasia (após 2020 cabe acrescentar: pode ter um plot twist que ninguém sonhou). Mas também acho que pode dar saudade de imaginar.

Estamos em um ponto que a lista de grandes conquistas vai ficando vazia, ou porque já realizamos ou porque não temos muito o que colocar. E acho que, pelo menos pra mim, isso traz uma sensação de "e agora?". Um vazio, uma sensação de falta de propósito. E vem a crença de "deveria ter feito mais/deveria ser mais assim ou assado".

Será que ficamos viciados em esperar pelo futuro? Será que é tipo um esgotamento de futuro com forte depreciação do presente? É isso que acontece depois do "felizes para sempre"? (No caso depois da formatura kkkk)

Essa foi a interpretação que dei pro seu texto, espero não ter viajado muito na maionese XD

Espero que possamos aproveitar mais nossas vidas como são. E que se estivermos muito descontentes ou há muito tempo com a sensação de "mais ou menos/tanto faz", que tenhamos coragem pra encarar o que precisa mudar. Mesmo que sejam mudanças tão grandes que joguem por terra inclusive nossas identificações mais sólidas.

Abraços <3

3 comentários:

Cauê Chu'bS disse...

eu fiz um comentário no texto do Chala que sinto que caberia aqui também, divaguei um pouco sobre a mediocridade...

aqui, eu fiquei me sentindo afim de perguntar o que é um feito grandioso?

e eu pergunto, porque (lembro do filme Pokémon 2000, com o subtítulo - que hoje eu julgo estúpido - de "o poder de um", no qual Ash impede sozinho que o mundo sofra as consequências do desequilíbrio trazido pela ganância de um outro indivíduo sozinho e) me questiono se não nos contaminamos com histórias de (super)heróis que se desdobram em violências e atos sobre-humanos justamente pra salvar a humanidade daquilo que 1% de nós (arrombados!) impõe aos demais.

Ariadne disse...

Eu fiquei pensando muito nesse texto, e enrolei demais para vir comentar.
Eu não tenho muitos feitos grandiosos, e alguns anos atrás isso me incomodava demais. Eu lembro de na fazer do Ciências sem fronteiras ver todo mundo publicando, estudando e indo fazer sua euro trip dos sonhos e me sentia constantemente ficando para trás. Depois veio a fase dos casamentos, e eu de novo me sentindo pra trás. Agora os filhos e adivinha onde eu estou? Hahahahah
Naquela época eu corria muito para alcançar, acreditando que era isso que ia me dar essa sensação de estar fazendo algo grandioso. Mas não foi assim :p
Depois de 2020, eu tenho me concentrado mais na mediocridade confortável do dia a dia. Não, eu não imigrei, mas pago sozinha o aluguel de um apartamento de 90m² em área nobre de SP. Não, eu não tenho"2 under 2", mas tenho três gatos gordos e deliciosos e uma posição na fila que me garante que cada dia que passa meus filhos estão mais perto. Não trabalho em uma escola construtivista fantástica, mas alfabetizei uma criança ano passado e estou alfabetizando a irmã dela esse ano, tenho 10 familiar que confiam em mim para ajudar com a educação dos filhos deles. Me sento toda noite na mesa para jantar e falar sobre a família que estou construindo. Jogo jogos de tabuleiro e brigo com o marido por isso, faço exercícios sem ter nenhuma crise de ansiedade três vezes na semana e de vez em quando até sobra coragem pra ir conhecer um restaurante novo ou num show de uma banda que eu gosto. Ninguém vai fazer um filme dessa vida e a Ariadne adolescente não ficaria entusiasmada com ela, mas é uma vida boa. Só de estar aqui depois de tudo, de estar de fato vivendo essa vida eu já sinto que é grandioso o suficiente, até pq houve momentos em que eu não quis mais estar. Me encantar com o real e não com as expectativas que eu tinha mais de dez anos atrás, me mostra que eu fiz muito mais. Eu nunca virei a Carrie batendo meu saltinho pelas ruas de São Paulo e escrevendo crônicas sobre a minha vida caótica porém prazerosa, mas gosto de ser a Ariadne andando com online falsificado pelas ruas de Perdizes e parando na quitanda do mineiro para comprar alguma verdura pra sopa do jantar. O futuro é, obviamente, permeado de expectativas, o meu já está há quatro anos tomado pelo filho que ainda não veio. Mas diferente da ânsia adolescente para que o tempo passe logo pra esse dia chegar, hoje eu percebo que já estou vivendo ele. Eu não sei o que é o futuro, mas se ele só continuar mediano como o agora, já é a melhor coisa que podia acontecer. Uma ode à mediocridade.

Ariadne disse...

Aff, era um Nike falsificado, não um online falsificado hahahahah
Nós o chamamos carinhosamente de Mike e ele é maravilhoso :v