segunda-feira, 14 de março de 2011

A ternura

Desde que fui concebida,viajo pra São Paulo.Sempre temos aniversários,feriados..Enfim,algo sempre nos faz ir pra lá.
Mas dá pra contar nos dedos quantas vezes saí pra conhecer a Cidade.Não chega a ocupar meus vinte dedos.
Neste final de semana,nada menos que três aniversários foram comemorados.Além deles,um compromisso burocrático nos manteve na Terra da Garoa por um dia a mais do que de costume.
Eram dois dias normais.Domingo e segunda.
Não sei se foram as longas horas de nostalgia familiar ou o gosto de saber que passaria o domingo num lugar diferente ou ainda que provaria o famoso trânsito caótico de São Paulo.Ou tudo junto.
Sei que seja qual for o motivo,alcancei um estado estranho de ternura.Olhava para tudo com um carinho inexplicável.
Subi as escadas do terraço cuidadosamente,como se fosse a primeira vez.Como se não fizesse parte daquela casa.
Ali,observando a construção,as vassouras,as roupas no varal e depois as casas vizinhas,atingi o ápice.
Alguém,um vizinho(a),desligou o chuveiro,abriu a cortina do box.
Por algum motivo,ao ouvir aqueles sons,ao acompanhar a movimentação,observando apenas a janelinha iluminada,me senti tão dona daquilo.Na minha cabeça apareceu o pensamento:'Furtei um instante'.
Era a vida,eu estava amando aquele pedaço de vida.
Era o céu,quase escuro.Era o lusco-fusco da tarde.Era aquela janela acessa.Era paixão.
De repente,quis reter.Reter o instante,pra lembrar pra sempre.Tinha que criar algo,pra simbolizar,pra guardar.
Não consegui nada.
Mas a ternura continuou comigo.Em cada gesto,em cada movimento,ela pulsava em mim.
Dormi assim.
Pela manhã,devido a briguinhas bobas pelo banheiro,não havia nem sinal da ternura e me sentia frustrada.Perdera o momento.
Saímos para o compromisso.Era segunda-feira de manhã e o congestionamento tinha um tamanho razoável.Mas pra minha caipirice,era um acontecimento incrível.
Curiosamente,depois de uma meia hora,já não era mais uma caipira assustada.Era novamente,amante.Lá estava a ternura.
Apesar do barulho,da sujeira,do perigo,do medo,achava tudo maravilhoso.
Milhares de pessoas se jogando no fluxo.Milhares de mundo se cruzando pela rua.Milhares de pensamentos,desejos,sonhos.E de problemas,tristezas,sofrimentos.
Mas ainda assim,amava.
A ternura pulsava como São Paulo,as sete horas da manhã.

3 comentários:

Purple-Headed Tang Chasa disse...

Ahhh saudades de São Paulo.
Já tive meus momentos de ternura e de vez em quando passo um tempo na janela do meu quarto furtanto momentos de outras pessoas, outros mundos.
Também adoro essa idéia de mundos se cruzando, milhares de vidas diferentes trombando na rua alheias a maravilha de simplesmente estar ali.

=D

nadamuitoriginal disse...

"Mas a ternura continuou comigo.Em cada gesto,em cada gesto,ela pulsava em mim.
Dormi assim."

=D

Cauê Chu'bS disse...

perdi as palavras e meio concordo
saudades de quando eu furtava momentos na minha janela =\