sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ansiedade

O tic-tac do relógio a incomodava. Há quantas horas estava tentando dormir? Talvez três, perdera a conta. Seu corpo doía, cansado de virar e revirar na cama. Suspirou, admitindo pra si mesma que estava ansiosa.
Desde que comprara as malas, não dormia nem comia direito, não podia pensar no que ainda faltava resolver, sem que o coração acelerasse. Acendeu a luz, era uma e quarenta e três, há duas horas e pouco estava esperando o sono. Precisava ler o contrato novamente, não por acreditar que a resposta que fazia seu estômago contrair estivesse lá, mas por ser uma leitura maçante. Encontrou-o em uma das bolsas de mão e voltou para a cama.
‘A empresa de advocacia Gregory & Gregory contrata Mary-Kate Noyes para... ’ e seguiam cláusulas e mais cláusulas sobre o salário, folgas, obrigações, benefícios. Seria um contrato comum, não fossem certos pontos, como por exemplo: a funcionária deve ser invisível durante as atividades sociais da família, não deve comentar para quem trabalha com ninguém, entre outros detalhes bizarros.
Quando o advogado lhe telefonara, explicando que se interessava em contratar seus serviços e se ela não poderia ir ao escritório para uma entrevista, pensara que cuidaria dos filhos dele. No dia marcado, foi informada de que trabalharia para um casal que só se identificaria quando começasse a trabalhar. O advogado foi muito gentil, deu-lhe uma semana para pensar.
Desde os dezesseis anos, cuidava de crianças. Primeiro, era apenas uma ‘baby-sitter’. Com o tempo, foi ficando cada vez mais claro que ela era uma disciplinadora, uma babá excelente. Há doze anos, colecionava boas referências.
Segundo o senhor Edward Gregory, graças aos antigos patrões, Mary ganhara essa oportunidade de emprego, que também de acordo com ele, era única. De fato, o salário, os benefícios eram diferenciados, jamais recebera tanto. Porém, não saber quem eram seus empregadores, lhe deixava a impressão de estar sendo traficada. Pesquisou sobre o advogado e ele não só era muito bem sucedido, como também tinha uma lista invejável de clientes, que incluía muitas personalidades famosas.
Sua mãe lhe disse para aceitar, caso perdessem o contato, avisaria a polícia (Mary sorriu e agradeceu). No dia em que assinou o contrato, soube que começaria em um mês e teria de viajar para a França, a família estaria em férias lá. O tempo passou rápido e em um piscar de olhos, estava fechando a última mala (há algumas horas atrás).
Seus olhos estavam ardendo, ainda tinha tempo para cochilar, apagou a luz.
Acordou assustada com o despertador. Tomou banho, vestiu-se. Comeu pouco, seu estômago estava sensível. Arrumou a cozinha, terminou de se arrumar e chamou um táxi.
Chegou ao aeroporto com três horas de antecedência. Procurou o portão de embarque, fez check-in, passou pelo detector de metais e esperou.
Entrou no avião. Por sorte, conseguiu relaxar, a ansiedade lhe deu uma folga. Leu um pouco, assistiu a um filme e teve uma animada conversa com o casal que estava sentado ao seu lado.
Desembarcou. Uma assistente a esperava, assim como a ansiedade e um lindo carro. Procurava ignorar as borboletas que preenchiam seu estômago e a adrenalina que circulava por seu corpo. Jeniffer explicou que a propriedade da família ficava em uma cidade do interior, levariam cerca de uma hora para chegar. Ela também contou mais detalhes sobre a rotina de trabalho e mais algumas exigências, nada de extraordinário. Mary se esforçava para prestar atenção, mas além de estar nervosa, estava em um país que sempre quisera conhecer, a paisagem parecia ser uma forma melhor de escapar da ansiedade do que prestar atenção à senhorita assistente.
Quando entraram em uma propriedade que parecia ser cenário de filmes, o motorista anunciou que haviam chegado.
Desceu do carro. Um empregado veio buscar suas malas. A moça foi verificar se os patrões estavam disponíveis para conhecê-la. Mary ficou esperando no hall. Conseguia ouvir risadas de crianças ao longe e o ambiente enchia seus olhos, virava a cabeça para todos os lados procurando aproveitar cada detalhe perfeito.
Jeniffer voltou e avisou que o casal iria recebê-la. O mundo desapareceu, não via a beleza, não ouvia as crianças nem sentia suas pernas e braços formigando de nervoso, só existiam as costas que lhe indicavam o caminho.
Pararam diante de uma porta, que a assistente abriu e anunciou o nome de Mary, que engoliu saliva desnecessariamente, respirou fundo, apertou as mãos e finalmente se mexeu.
Toc-toc-toc era o barulho de seus passos, o único som que ouvia. Entrou.
Sentados em um confortável sofá, no fundo da sala, estavam Brad Pitt e Angelina Jolie.

Obs.: Baseado em uma reportagem da revista Lola Magazine sobre Angelina Jolie

4 comentários:

Cauê Chu'bS disse...

caralho O:
muito bom =]

nadamuitoriginal disse...

=D

Gosti.

Purple-Headed Tang Chasa disse...

Muito bom !

É impressionante a quantidade de conflitos que uma pessoa pode passar.
Tanto por coisas "grandes" como essa ou como pequenas como coisas do dia a dia.

lídia disse...

=D Fico feliz que tenham gostado,já faz um tempo que esse texto está na fila...
Isso é uma dicaaa (tirei o dia para te incomodar,Lí)