Meus pais são espíritas, assim como meus avós maternos. Eu também tinha uma credulidade bem definida, mas em algumas reflexões eu acabei me desvinculando dessas ideias, tudo começou a soar um pouco inventado e tive dificuldade em continuar a ver palestras ou participar da mocidade do Centro da 15. De qualquer maneira eu continuo achando o Espiritismo a religião mais palpável e bem fundamentada das que conheço a base, uma vez que haja toda uma lógica por trás dos seus dogmas, por isso vou compartilhar com vocês aqui o que achei curioso dentro da doutrina.
A primeira coisa que me chamou a atenção na introdução foi Kardec contando sobre as primeiras manifestações aparentemente sobre-naturais que ocorreram tanto na América (acho que com isso ele se referia aos E.U.A.) e em Londres, na Inglaterra. Tratavam-se de situações não muito extraordinárias, aonde, às vezes (bem dificilmente mesmo), mesas levemente moviam-se a partir de forças invisíveis e sem explicação encontrada na Física convencional. Isso criou um boato extremamente chamativo e cada vez mais pessoas tentavam repetir a experiência, na esperança de, dentro da sua modéstia, não deixar de entender nenhum traço da visualmente simples realidade que os cercava. De acordo com o livro, logo foram cada vez mais frequentes as manifestações dessa força, que agora era responsável por não só movimentos limitados e sutis, como também outros, estes agora circulares, que guiavam os objetos colocados sobre mesas. Surgiram também sons de fortes pancadas cuja origem era desconhecida.
Engraçado que Kardec até admite que movimentos circulares estão presentes na natureza, acredito eu, se referindo às órbitas em elipse. Entretanto realça que, apesar disso, os movimentos desobedeciam a qualquer tipo de padrão, o que o fez questionar se a força invisível, a qual ele até compara com a eletricidade, diferenciando-as, teria uma inteligência. Razão que antes só havia sido encontrada nos seres materiais da espécie humana agora estaria, hipoteticamente, presente nessa nova força.
Enfim.Com o tempo aquela imagem famosa do Chico Xavier psicografando começa a nascer junto da presença dos primeiros médiuns, sendo estes os intermediários entre o mundo material e o invisível, imaterial, espiritual. Esses sujeitos, no mesmo estilo do brasileiro que rendeu filme nos últimos meses, tornaram os objetos e os sons de pancada, dos quais com o tempo passaram a ser utilizados para responder perguntas de 'sim' ou 'não', obsoletos no processo de interação com essa nova força que, para os mais crédulos, tinha autonomia e raciocínio dignos de um ser-humano. Kardec os ilustra como pessoas praticamente possuídas pela tal força e que, em meio a tremedeiras febris e assustadoras, escreviam, com diferentes caligrafias, sobre os mais profundos e nobres conhecimentos, coisa que, aliás, fugia da capacidade intelectual dos próprios.
A partir desse novo instrumento tão prático e conveniente, Allan Kardec passou a aprender com essa força inteligente que se definiu (veja bem, ela mesma, a entidade, usou a expressão pela primeira vez, supostamente) de espírito ou gênio.
Começaram então as entrevistas. Verdadeiras discussões entre o fundador da nova doutrina e os seres imateriais de conhecimento novo e excitante.
Vou citar alguns dogmas que Kardec relatou e sejam interessantes para vocês:
- Os Espíritos são a natureza moral do ser-humano, e, portanto, não são presentes nos demais seres-vivos, algo que é perceptível pois estes não são dotados da razão necessária para definir valores mais complexos como a noção de ética. Significa que nos animais 'irracionais' existe só o material, que define a natureza instintiva.
- Estar no plano material é escolha do Espírito, pois trata-se de uma oportunidade de progredir moralmente e conviver em planos espirituais superiores posteriormente. É uma prova de choque, pois somente na Terra pode-se ter contato com seres de níveis de evolução diferentes, tanto àqueles vinculados a espíritos superiores como perturbados.
- Espíritos não têm sexo, ou seja, é possível encarnar como homem e no seguinte oportunidade, como mulher, pois se fôssemos limitados a só um tipo de realidade, não aprenderíamos com os problemas exclusivos da outra.
- Deus é uma entidade imutável que não age diretamente sobre o mundo terreno, o que significa que quando rezamos a Ele, não seremos atendidos pelo mesmo, mas sim pelos Espíritos superiores que se aproximarão e, assim, afastarão as más influências como também participarão de forma sutil nas nossas ideias: nunca elas concretizando, mas sim auxiliando-nos a alcança-las.
- Dentro da doutrina espírita não existem pecados e todas ações individualistas serão perdoadas por cada inteligência ativa no plano superior, exceto pela espírito que as exerceu, pois ao desencarnar seu conhecimento expande e, a partir disso, cresce um enorme arrependimento pela perda da oportunidade de transcender os valores supérfluos presentes na natureza instintiva do plano material.
- Ao reencarnar o espírito se submete às limitações terrenas, entretanto é fato que ideias inatas agem em cada corpo dono de uma razão.
Embora seja bem fantasioso, me agrada principalmente a parte que declara a responsabilidade do espírito ao vir para o plano material. Não é uma prova para uma entidade maior, como em muitas demais religiões, mas sim um desejo de assemelhar-se mais às sábias entidades superiores, de conquistar uma compreensão mais profunda da natureza da qual nos submetemos, seria, portanto, uma prova para si próprio. Mesmo assim, para mim, ainda é só uma crença, não um saber, logo tanto pode ser, como pode não ser. Uma vez que não tenhamos mais as tais manifestações, fica difícil me inclinar a acreditar de fato.
=]
3 comentários:
não sei dizer mais que: interessante
gostei msm
Interessante ... sempre conheci outro lado do espiritismo, é sempre bom conhecer novas visões, principalmente sobre religiões...
Interessante. =D
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