sexta-feira, 4 de setembro de 2009

25-Myrella

Era um hotelzinho antigo e sujo. Na realidade, era onde as prostitutas do centro atendiam seus clientes. Depois de mais de trinta denúncias de agentes de saúde, fora interditado e devido às dívidas do dono, leiloado. Então ele entrara na história, ele trabalhava na empresa de demolição.
Na porta, em números que um dia foram dourados, lia-se 25 e embaixo o nome da ocupante escrito com batom 'Myrella'.A moça também deixara a marca de sua boca.
Abriu a porta. O chão, como no hotel inteiro, era de madeira,cheio de fendas. As paredes deviam ser cor-de-rosa, mas o tempo as deixara com um tom amarelado.Do lado esquerdo havia uma marca na parede indicando que ali fora o lugar de um espelho. Marcas no chão indicavam o lugar da cama e de uma penteadeira. A janela era de madeira, também muito velha e cheia de frestas.
Parecia que ainda era possível sentir o cheiro do perfume barato da moça. Sentia que a qualquer momento ela entraria e o envolveria em seus braços e naquela atmosfera suja que ele sempre tivera curiosidade de provar.
‘Chega. ’Pegou a marreta e as ferramentas. Arrancou a janela, a porta e derrubou as paredes. O hotel foi envolvido pela poeira e pelo barulho de pelo menos dez marretas que batiam ao mesmo tempo.
Um pouco antes do fim do expediente, atreveu-se a levantar as tábuas do assoalho para ver o que encontrava. Alguns insetos mortos, pitucas de cigarro, algumas moedas, três alianças e algo que talvez fosse um ninho de rato. Ao examinar mais de perto, percebeu que eram calcinhas e meias de renda que os ratos haviam roubado de Myrella. As peças estavam roídas e sujas, mas com certeza agradaram muitos homens antes de agradar aos ratos.
Após mais um dia de trabalho, o antigo hotel foi reduzido a um monte de entulho.
Algum tempo depois, ao passar pelo terreno entulhado, sentiu como se tivesse freqüentado aquele lugar, podia ouvir as vozes das moças com seus clientes, via o corredor de paredes ensebadas parcialmente iluminado, com seus quadros simples e meramente decorativos. Sentia o cheiro do perfume barato. Sentiu saudades das lembranças que nunca vivera.

5 comentários:

Anônimo disse...

interessante...

Cauê Chu'bS disse...

lindao bebê 8D
teu estilo mesmo xD

Purple-Headed Tang Chasa disse...

"Sentiu saudades das lembranças que nunca tivera." final perfeito.


PS.: sempre achei que fossem bitucas de cigarro ... mais um dos clássicoas erros do Lucas?

lídia disse...

Procurei em três dicionários e não encontrei nenhum dos dois jeitos.Então vou deixar assim mesmo porque é gíria e a gíria é do povo :]

Purple-Headed Tang Chasa disse...

caraca ... não tem bituca no dicionario ... O.o