quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Gato

Estava eu andando pela rua de tarde e vi um gatinho. Eu parei e olhei pra ele, que correspondeu. Eu dei um passo na direção dele. Ele, para minha surpresa, não fugiu como todos os outros. Tinha um olhar diferente, um olhar de como me conhecesse e ao mesmo tempo de piedade. Por estar chateado naquele dia, precisava de companhia, levei-o pra casa. Lá esquentei um pouco de leite e pus ração em um potinho. Sentei ao lado dele, esperando que ele começasse a comer desesperado. Mas o gato olhou para o pote e olhou para mim. – Come gatinho, vamos é uma delicia. –dizendo isso, peguei um punhadinho de ração e levei até sua boca. Ele virou a cara e para minha surpresa disse “Não preciso de comida, preciso de amor, assim como você!”. Eu levantei de susto e olhei pro gato. Ele olhou pra mim, sentou, abriu a boca e de dentro dele saiu um cara gritando: – Pegadinha do Malandro! Eu fiquei em choque e quis bater e ao mesmo tempo agarrá-lo. Porque estava muito carente. Ele disse que trabalhava para a CIA e eu era suspeito de algo que até hoje não sei. Só depois de um tempo notei que ele devia ter uns dois metros. Como ele coube naquela fantasia ou como não estranhei o tamanho do gato? Comecei a ficar com medo, não percebi a diferença entre um gato e um cara fantasiado de gato. Se não era capaz disso, então devia ter sido enganado durante toda minha vida. Fiquei olhando para o teto, deitado no sofá, o homem-gato estava deitado no outro sofá. – Sabe cara – ele disse. – gostei de você, você parece boa pessoa. – Você quase me matou! – disse com raiva. – Mas foi engraçado. – Você aproveitou da minha carência! – Ainda assim foi engraçado. – Hum... – Vem comigo que eu te mostro um mundo novo. – convidou ele, me abraçando. Depois desse dia, realmente minha vida mudou, saíamos todos os dias juntos. O homem-gato me mostrou que o mundo pode ser visto de vários ângulos. Por exemplo, o terreno baldio da minha rua, ou um beco que passo todos os dias e nunca reparei. O homem-gato era muito atencioso, depois dos nossos longos passeios íamos para casa e nos divertíamos jogando UNO, vídeo-game, assistindo TV, comendo bobagens ou inventando textos malucos. Mas um dia, ele disse que estava cansado da fantasia, disse que era hora de mostrar o mundo real. – Agora eu boiei geral. No nosso passeio seguinte fomos à uma favela. Não acreditei no que via, crianças, gatos, cachorros disputavam pau a pau seu café da manha na lateral da feira. Molecada sem futuro eu já podia ver, só vão à escola pra comer. Apenas. Como vão aprender sem incentivo de alguém? Resolvemos então, morarmos juntos na favela. Montamos uma ONG onde ensinamos atividades depois das aulas, como: malabares, curso de palhaço, montagem de marionetes, teatro, dança, esportes em geral. Mas para participarem devem fazer uma prova mensal comprovando que estão aprendendo. A comunidade gostava bastante da gente. Mas como sempre há complicações, ocorreram alguns problemas. Uns moradores, que não sabem aceitar outros pontos de vista, implicaram de eu e o homem-gato morarmos juntos. Ficavam falando que não aceitavam bichas. Queriam nos matar. Sorte que apareceu na novela um casal homossexual, também mostrava que não tinha nenhum problema. Aí o pessoal aceitou mais nosso namoro. Nossa ONG ia bem e nosso barraco era lindo. O gato falava em oficializar tudo, causar polêmica, sair na VEJA. Eu preferia uma festa simples, com trocas de alianças, mas sem documento e polêmica. Foi um período ruim do nosso relacionamento, não tínhamos momentos de alegria, discutindo o progresso das crianças. Agora nossa relação era muito íntima e eu não queria perder isso. Tinha medo de botar tudo a perder. Sentamos para decidir o que seria feito da nossa relação. O gato disse compreender minha preocupação e me contou sua preferência em fazer algo público. Entendi seu lado. Juntos decidimos que seria melhor mesmo fazer algo polêmico, não por nós. Mas por todos os caras que um dia foram reprimidos. A sociedade brasileira devia encarar isso. Fizemos então, o casamento que aconteceu na Ilha de Caras. Saiu muito caro, mas os meninos da favela venderam gatinhos por seis meses e eu e o gato pedimos no farol por três meses. E por sermos um casal polêmico que faria a revista vender muito, a Caras ainda deu 30% de desconto. Assim que a noticia da festa se tornou pública, recebemos vinte convites de entrevista, foi tão divertido ver nossos rostos estampados em revistas e pôsteres, mas nada foi melhor que a cara de bunda dos que eram contra a nossa união. O próximo passo era adotar uma criança, chegamos a anunciar isto numa entrevista, e fomos ridicularizados pela equipe. Processamo-os por danos morais e difamação. Fomos reembolsados com 50% dos lucros da edição e um pedido de desculpas formal e por escrito. Fomos a um orfanato e resolvemos escolher um menino com mais de seis anos, porem nenhum deles ser adotado por um casal gay. Ficamos muito chateados, ainda mais que a imprensa nos metralhou. Resolvemos mesmo assim adotar um garoto menor, ele sim gostava de nós, já que só tinha um ano e não fora afetado pelos conservadores idiotas. Criamos nosso bebê com muito amor. Ele cresceu na nossa ONG, aprendeu malabarismos e se tornou o melhor palhaçinho da comunidade. Tudo foi bem, até os seus seis anos. Ele começou a ter raiva de ser filho do casal viado (como nos chamavam os que ainda não nos aceitavam) e o filho do homem-gato. Foi ficando cada vez mais revoltado, não importava o que eu e o gato fizéssemos. Decidimos deixar a favela. Voltamos para minha antiga casa. Ele ficou deprimido por ficar longe de seus amigos. Odiou a escola nova. Pegou uma gripe forte e em uma semana morreu. Alguns jornais fizeram reportagens pequenas, eu não quis dar entrevistas. Mas o gato quis. Não o reconheci, ele estava usando a morte do nosso bebê pra aparecer. Brigamos feio. Ele disse que o garoto estorvava e que queria mais tempo comigo. Senti nojo dele. Começamos a nos empurrar e em dois minutos estávamos nos socando. Caímos no chão, eu por cima dele. Ele me arranhou, me socou e tentou me enforcar. Mas eu consegui lhe dar uma bofetada e ele me soltou. Então apertei seu pescoço com força: – Eu te odeio gato! Ele me olhou suplicante e perguntou: – Você vai me matar? – não agüentei, o soltei e deitei exausto no sofá. Fiquei olhando o teto durante uma meia hora, acho que cheguei a dormir. Quando saí daquele “transe”, me virei pra ele para avisar que queria o divórcio. – Gato, eu... – mas no chão só havia um gatinho. Por: Chu, Gigi e Lídia.

3 comentários:

nadamuitoriginal disse...

aehueahuaehueahuae
O gato é o mais brisa/engraçado.

Cauê Chu'bS disse...

tinha q se ideia minha neh 8D

Purple-Headed Tang Chasa disse...

Esse texto me surpreendeu ... eu tinha lido ele até a parte que o gato vira um homen, e no final das contas ele até é um texto bom.