quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Estava esperando Nelsinho, sempre chegava na mesma hora. O ambiente estava pesado, talvez de tensão. O garçom trouxe o pedido e ele não “chegava”. Saiu, foi fumar um cigarro quando ele aparece. Nelsinho com cara de envergonhado, mesmo que muito frio. Tentou se explicar: – Nossa Madalena! Desculpa, a avó da vizinha da minha irmã passou mal! Precisei levá-la ao hospital. – Claro, - disse ela soprando uma baforada de cigarro na cara do Nelsinho. – e a minha vó é um hamster. – Madalena, é verdade! – exclamou – A avó da vizinha da minha irmã tá no hospital, numa cirurgia. – Aham, claro – Sugou o final do cigarro e soltando a fumaça continuou – não acredito em mais nada que vem de você. Deu as costas a ele, começou a andar como se estivesse só. E falou sem se dirigir ao homem: – Vamos tratar logo desse negócio. Aquela maconha que você me vendeu estava estragada! O cliente passou mal e, pois a família na parada, Nelsinho! Eu to f... – Eu... – Você é um incompetente! – gritou, esquecendo-se que estava em um restauranteVocê é um merda. Um traficante de merda! – Grita isso, não, filha! – implorou ele. – Eu grito sim! Faço escândalo, seu viado! Nelsinho saiu correndo para fora do restaurante. Madalena estava preparada, pegou o 38 e desistiu da idéia, pois estava em um lugar muito público, além do que, Nelsinho não faria nada. Ele saiu correndo e chorando muito. Ela apenas ligou o celular e falou para alguém: – Peguem ele, aquela bicha já era. Ligou para ele. Tudo isso tranquilamente, ninguém no restaurante notou, era apenas uma briga de casais. – Você tá fudido! – E riu falsamente, do outro lado da linha ouviu um grito abafado. Agora estava livre dele. Voltou calmamente para sua mesa e se preparou para comer sua feijoada. De repente ouviu um helicóptero, olhou pela janela, era da Polícia Federal. Uma sirene tocou, um carro de polícia parou na porta do restaurante. Seu coração acelerou, mas começou a feijoada fingindo que estava tudo bem. A polícia entrou fazendo escândalo, mandando todos colocarem a cabeça na mesa. Madalena foi a única a desobedecer, continuou comendo. Dois agentes do COTE (Comando de Operações Táticas Especiais) se aproximaram com um mp5 cada, ordenando que ela se abaixasse. Continuou comendo e após terminada algumas garfadas pegou um distintivo na bolsa, jogou na mesa indiferente. Os policiais cessaram os gritos e com cara de espanto viram que ela era sua superior. Levantou-se e saía quando disse: – Vocês sempre estragam meus momentos felizes! Todos no restaurante estavam pasmos, inclusive os policiais tão treinados. Madalena tirou da bolsa uma nota de dez reais e entregou para o garçom e caminhou sensualmente até a saída, deixando os policiais espantados. Na porta parou e acendeu outro cigarro, quando olhou para seu carro do outro lado da rua, viu que havia um homem encostado no capô. Era o Reinaldo, seu capanga. – Acabei o serviço, madame. – disse. – Ótimo! Agora desencosta do meu carro, vagabundo! - É a mãe! – Respondeu tirando uma Mac10 da jaqueta e pois a arma em seu pescoço. Nelsinho saiu de trás do carro e disse: – Entra nessa porra de carro que nós precisamos conversar longe dos seus amigos. – Você não me dá medo – Falou superséria para disfarçar o pavor. Madalena dirigia seu carro importado ao lado, no banco de passageiros, estava Reinaldo apontando sua arma para ela e atrás Nelsinho todo folgado. – Então, Dona Madalena – disse o Nelsinho – vai chamar seus amigos? – deu uma risada cruel. Reinaldo o acompanhou. O coração dela batia acelerado. Tinha o problema da polícia, tinha a traição dos seus capangas. Que droga de vida! Por que tinha entrado naquele negócio?! Seu salário era bom, por que quisera mais?! No meio dessa crise de consciência entrou outro carro, parado no meio da pista. Então, num golpe de sorte, Madalena contornou o carro por trás só perdendo o retrovisor esquerdo. Agora o carro a seguia de perto, Madalena não entendia o que estava acontecendo. Embora não demonstrasse tanto, Reinaldo e Nelsinho não pareciam entender o fato. Por instinto, Madalena acelerava para manter distância do veículo preto, que a seguia de perto, acelerou tanto que a polícia também começou a persegui-la. Pensou: “Se eu parar o carro, o cara de trás se ferra e os caras do meu lado também. E o máximo que acontece comigo é uma multa ou detenção leve.” Só que enquanto pensava isso não olhou para a rua e acabou atropelando uma mulher. Tudo isso acabou com seu plano, então resolveu parar alguns quilômetros adiante e alegar insanidade mental. Quando começou a desacelerar o carro, Reinaldo começou a gritar: – Você não vai parar sua vadia! Você vai levar a gente até a estrada! Acelera esse carro! Acelera se não eu te mato! – Mata – disse ela tranquilamente, oferecendo o pescoço. Parou o carro,se virou com um sorriso louco para Reinaldo, que deu dois disparos. Madalena saiu do carro alegando tentativa de seqüestro e dizendo que os criminosos tinham se matado. A polícia jogou Madalena contra o próprio carro e deu voz de prisão por corrupção e tráfico de drogas. O carro que estava seguindo Madalena misteriosamente desapareceu. Ela alegava à polícia dessa perseguição, mas a consideraram louca e a internaram numa clínica. Quando saiu, todo esse caso havia sido esquecido pela mídia graças a um casal gay escandaloso. Com facilidade conseguiu que sua pena fosse cumprida em regime condicional aberto. Um dia em casa o telefone tocou. Ela atendeu, mas ninguém respondia do outro lado. Desligou o telefone xingando quem quer que fosse. Não passaram cinco minutos e o celular tocou. – Alô? – Perguntou irritada. – Quer recomeçar o trabalho? – Perguntou uma voz conhecida. – Claro. Quando? – Agora que o Nelsinho já era. É só dizer o melhor momento. – Falando no defunto – disse ela com um sorriso malicioso – obrigado por me salvar aquele dia. – Foi nada, meu amor – disse o homem. - Te encontro nas costas do Redentor em 10 minutos. – Rápido, hein? Cuidado com as multas. – Você me conhece – disse ela maliciosa – a propósito. Você me ligou agora a pouco? – Não. Por quê? – Estranho... – disse olhando para o telefone de canto de olho. – Bom. Em 10 minutos no Redentor. Ela desligou o celular, pegou a bolsa e as chaves do carro e saiu sensualmente pela porta. Por: Gigi, Lídia e Chu.

2 comentários:

lídia disse...

uuull!adoro esse final.
Foi lindo Chubs!

Priscila Pozzoli disse...

História totalemnte incomum...
muito boa!

Vocês três dão um belo trio literário.